sexta-feira, 22 de julho de 2011

ETNOLAZER NO ÂMBITO EDUCACIONAL

Relatório da disciplina Etnolazer Cultura e Atos de Currículo


É interessante notar como o conhecimento se constrói e reconstrói no decorrer da nossa trajetória acadêmica. A disciplina Etnolazer Cultura e Atos de currículo me proporcionou essa dinâmica fundamental para minha formação contínua como educadora. Logo no início da disciplina consegui desmistificar um estigma social – o lazer. Pude considerar que no contexto da indústria cultural atual, o lazer foi vendido e deturpado. Quem nunca viu ou vivenciou espaços para o lazer? Momentos de lazer no trabalho na escola, ou em outros âmbitos sociais? A indústria cultural do lazer o camufla com o objetivo de vendê-lo. O consumo desse pseudolazer está vinculado a obrigação do consumidor dar algo em troca, seja dinheiro, trabalho ou a livre escolha da atividade.

O professor Wilson usou um excelente exemplo em sala para ilustrar isso. Ele construiu um exemplo na época dos escravos, pediu para visualizarmos um senhor de Engenho se reunindo com seus escravos e fazendo um acordo com os mesmos, a fim de aumentarem a produção de sacas e em troca receberiam um dia de folga e tampouco seriam chicoteados, usando sempre no seu discurso a idéia de união e progresso entre o dono do Engenho e seus escravos. Essa ilustração nos permite refletir a cerca do nosso meio ambiente trabalhista atual, dos interesses por trás de horas de “lazer” nessa sociedade e como ele vem sendo vendido para a população de maneira subliminar.

Tive uma sensação de “soltura de algemas”, quando conheci o significado de lazer. Percebi que não se tratavam de momentos comprados, induzidos pela mídia ou vinculado a padrões, mas envolve a liberdade de ações em sua plenitude. A diversão tem que ser desinteressada, nos proporcionando experiências lúdicas de prazer desobrigadas de interesses sociais, trabalhistas, políticos ou religiosos. Por exemplo, há uma diferença entre o jogo de amarelinha na escola (com interferência pedagógica ou com limite de tempo e espaço) de um jogo de amarelinha livre (na comunidade). A gratuidade e escolha pessoal influenciam diretamente no prazer que teremos em desenvolver determinada atividade.


“O fato é que o lazer supõe obrigações, ou seja, para que ele exista é necessário que elas cessem. Outro traço definidor do lazer é o seu caráter desinteressado – que, a exemplo do anterior, também deve ser relativizado, não possuindo fins lucrativos, utilitários, etc.” (CARVALHO, 1983 pp.25)


Para essa sociedade capitalista que valoriza mais o TER do que o SER, a canção de Lenine tem muito para ensinar.

Paciência

Composição: Lenine e Dudu Falcão

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não para...
Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...
Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...
Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não...
Será que é tempo
Que lhe falta para perceber?
Será que temos esse tempo
Para perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...
Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para...
A vida não para...

A partir dessa realidade social, a academia é responsável por aprofundar essas questões das áreas de etnolazer. Questões como: Quem somos? Como realizamos? E por quê realizamos? Influenciam o nosso estilo de vida, formando assim diferentes lazeres, culturas, artes etc. Os educadores juntamente conosco (educandos) da disciplina percebemos a necessidade de diálogo entre os currículos vigentes, e em muitas ocasiões desprestigiados ou discriminados pelos vendedores de pseudolazeres. Por isso, foram organizados 2 seminários. nos dias 17/0611 e 08/07/11.

No primeiro dia, foram problematizados os currículos impostos pelos “pensadores” que se consideram os detentores das diretrizes mais adequadas para a educação. Foi mostrado um vídeo de uma africana nascida na Nigéria que foi morar nos Estados Unidos, ela problematiza a partir da sua própria história (desde a sua infância) questões culturais e de estereótipos. Num outro momento ocorreu uma roda de capoeira. A partir daí surgiram discussões proveitosas a cerca dos estereótipos e preconceitos étnicos e culturais no âmbito educacional atual.

Já no segundo dia, consideramos a pluralidade dos lazeres, tivemos convidados que expuseram suas experiências a partir do rap, cordel e a cultura indígena. Aprendemos como conversar com a diversidade vigente na sociedade. Na roda de conversas, foram discutidas as visões e movimentos sociais os quais muitas das vezes são discriminados os estigmatizados pela mídia e consequentemente pela maioria da população, como por exemplo, os punks, os índios pichadores, rappers, cordelistas etc. Assistimos a um vídeo onde mostra um super-herói baiano que nasceu de pichações na cidade, com elementos da nossa cultura bem enraizados.

Enfim, a trajetória nessa disciplina foi de extrema importância no sentido de me fazer refletir a cerca dos pressupostos sociais na definição de lazer, cultura e atos de currículo. Pude refletir as minhas ações como profissional e como inserir e lutar em prol de melhorias na educação como um todo. É claro que essas transformações não são imediatas, mas como conversamos, elas ocorrem a longo prazo e não são mudanças somente legais como também atitudinais. Por isso, temos que lutar para que essas questões sejam amplamente discutidas e repensadas em todos os âmbitos sociais. Conforme Nelson Carvalho, agora é o momento certo para levantarmos essa questão.

“[...] críticas aos equívocos que envolvem o lazer e propostas de reumanização da cultura, na qual o lazer tem que recuperar seu espaço. Será este um tema supérfluo? Tudo indica que não. Tudo aponta para que justamente agora está no momento certo de se levantar a questão, com critério e profundidade”. (CARVALHO, 1983 pp.18)



Laís Silva Reis

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